quinta-feira, 25 de junho de 2009

Oh, jovem!

Foi quando abracei minha avó e senti seu coração pular de tristeza, no dia do meu aniversário. Todo mundo em volta da mesa, na varanda, dividindo sofrimento. E tudo o que eu queria era dar a ela minhas forças mais sinceras. Eu queria dizer que eu podia entender aquilo tudo, queria procurar trevos no jardim. Mas o silêncio parecia ser o melhor conforto.

Quando eu fiz 25 anos, meu tio morreu. O dia em que eu ouvi dezenas de teorias sobre a morte, do destino do corpo, do espírito, e de crenças controvertidas. Os dias tristes são mais longos. Sentimentos em dias tristes são frágeis demais.
E vendo meu avô ali, passos curtos e apressados, sincronizados com a bengala gasta, procurando um bom piso para se apoiar, embora todo o chão tivesse se aberto sob ele, no dia anterior... Velho de olhos cheios d'água, com sapatos lustrados, mãos trêmulas, aliança larga. "O homem que a dor não educou, será sempre uma criança" (Niccoló Tommaseo). Quando as pessoas se vão, fica muito delas em nós. As lembranças vêm mais fáceis, mais suaves, mais nítidas.

Ainda pude ouvir sua voz naquele dia. Madrugada fria, meia luz. Os olhos azuis já não se via mais, agora descansados sob um véu branco, em meio às flores e ao terço. Não entendo porque as pessoas ficam tão nobres no pensamento dos que ficam. Não vejo lá tanta beleza em enobrecer pessoas que não estão mais aqui. Nobre é a vida. A verdadeira nobreza está na vida. No cheiro da terra molhada, na sensação do vento nos cabelos. A nobreza está no que vivemos, no que sentimos, no que amamos e respiramos. E ninguém devia aprender mais com a morte do que com a vida.

Perdas são tão óbvias, tão certas, transparentes. Não tenho medo de esquecer seu rosto, não tenho medo de esquecer imagens. Quero lembrar-me da sua voz e da risada alta, do abraço e da cerveja gelada. Quero guardar seu sorriso na memória e o presente que você me deu de aniversário, ano passado. Não quero a sua poltrona reclinável, não quero desvendar mistérios seus. Fotografia escondida atrás do espelho, quem diria, outro menino. Quero tudo como está, quero brilho nos olhares. Você não estará mais presente nas manhãs, nem lá perto do rio, ouvindo música sertaneja, abrindo e fechando a geladeira. A ideia de não te ver mais não me causa arrepios. A ideia de não te ver mais me faz desejar paz no seu coração. Paz que tanto lhe faltou. Paz quando chegar a hora de a gente se encontrar de novo.