segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sucesso!

E você dizendo ao telefone que já vinha, que era pra te esperar lá embaixo, e aí eu já sabia que era só daqui a umas três horas e meia, depois do seu banho demorado ou algum filme na tv. Cigarro caído no canto da boca e você jogando fichas de poker sobre a mesa, fechando um dos olhos por causa da fumaça do L&M. Os blefes perfeitos.
Naquela manhã de agosto eu queria muito estar com você, nem sei pra quê, mas eu queria te fazer companhia. Queria te dar abraços de dez minutos. Queria te levar lá no nosso esconderijo, lembra? Lá onde a gente tinha certeza que ninguém, além de nós mesmos, nos encontraria.
Você de terno e gravata e a gente fumando no telhado de casa, antes do sol sair. De quando você me ensinava a dirigir e de todas as vezes que você, empolgado, contava as histórias da propaganda. E fechava os olhos quando sorria.
Só que agora você sumiu daqui. E tudo o que eu queria era poder te ligar, mandar e-mail, te visitar, sei lá... mas você não atende o celular, não responde mensagens, não sai de casa, não tem mais e-mail, msn...
Eu não quero saber dos seus motivos, não quero te fazer perguntas. Quero você de volta na sexta feira, lá na calçada de casa, jogando conversa fora. Quero as ideias mais loucas e a tal invenção do free-ondas... que iria mudar os rumos da humanidade.
Ah, meu amigo, que falta você me faz...

domingo, 4 de outubro de 2009

Quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra


Jiboia colecionava pedras de todas as formas, tamanhos e cores. E sabia o valor que cada uma delas tinha em sua vida, o valor em dólares. Seus olhos brilhavam tanto quanto as pedrinhas, quando suas imagens se encontravam frente a frente. Usava camiseta e se dizia perito em pedras. Ninguém nunca as amou tanto. Era dono de terras invejáveis, lá onde ele achava as tais pedrinhas. Tinha a voz mansa e ficava noites inteiras procurando por elas. Lá naquela cidadezinha lhe era permitido amar as pedras, lhe era permitido almejá-las. O que Jiboia não contava era com o tamanho do mundo lá fora, acima da cidadezinha com ruas de nomes preciosos. Ele apenas se preocupava com o pequeno mundo das pedras. E quando o resto do mundo inteiro descobriu o segredo de Jiboia, resolveram roubar-lhe as pedrinhas. Foi a pior de todas as dores que já sentira antes. Sem as pedras ele jamais conseguiria sobreviver. Sua vida acabara de perder todo o sentido. O sentido da raridade das pedrinhas.