quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Mas fica

Vamos unir o que temos de bom
A gente faz uma canção para festejar nossas lembranças
Senta aqui do lado
Traz o baixo e o violão
Que a gente canta alto, bem alto
Que é pra alegria contagiar a cidade inteira
Deixa todo mundo saber das nossas histórias
Saber das nossas risadas
Há muito de bom nessas recordações
Foram tantos momentos
Vamos dançar de mãos dadas
A música que, literalmente, será a nossa
Vamos...
Que esses dias de tristeza já não soam bem
A trilha sonora já não satisfaz
Não contagia
Vamos revelar aos quatro cantos
O segredo dos bons momentos que passamos
Na diversão de tudo que fizemos
Quem sabe fomos longe demais, eu não sei
Mas o suficiente para uma boa música
Para se ouvir ao pôr do sol
Mas fica...
Fica perto que tudo fica bem
Porque se você se afasta
Leva embora a música
E a minha alegria também.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Alienação frutalense


A impressão que eu tenho é a de que a maioria das pessoas de Frutal simplesmente não pensam. E isso muito se deve à falta de subsídios pensantes, já que não há na cidade qualquer espécie de contribuição cultural. Sim, isso mesmo. Não há cultura por aqui. Houve um tempo em que existia um cinema, mas atualmente não há mais nada. Isso sem falar da educação pública, fraca e desestimulante, diante da desmotivação dos professores provocada por seus salários ridículos, mesmo após incessantes lutas de classe. Não há incentivo à arte, literatura, dança, música.

Cultura por aqui tem o nome de carnaval – caro, violento e sem graça –, e um “Agosto dos Grandes Espetáculos” com artistas regionais, mas em sua maioria não locais, onde não há nenhum benefício relevante e direto para a população, mas tão somente gastos desnecessários. Não há preferência por músicos e artistas frutalenses. A cultura é escassa e a valorização dos artistas locais é praticamente nula, apesar de contarmos com excelentes músicos e bandas locais. Não há cinema nem teatro. Por aqui as pessoas são alheias a toda forma pensante e não se importam em manterem-se desta forma.

A diversão por aqui é a “balada sertaneja”. Todos os finais de semana é o que se encontra por aqui, em festas regadas a álcool e drogas, onde as pessoas, terrivelmente fantasiadas ao estilo country do interior, frequentam festas onde as mulheres, de salto alto e minissaia, contam inclusive com descontos nos ingressos, ou até entrada gratuita, só para alegrar e satisfazer os “machos” com suas calças apertadas. Em todo e qualquer canto da cidade o que predomina é o sertanejo. O famoso sertanejo universitário, variação bizarra do que um dia foi moda de viola, com suas letras vazias e praticamente iguais – o que muda é a dupla de cantores que, em grande parte das vezes, são cópias fajutas de duplas populares, com péssima produção musical. O lazer preferido por aqui é o sertanejo e a cerveja. Todos os bares de Frutal sobrevivem basicamente da venda de bebidas alcoólicas, que é o divertimento da maioria, que enche a cara aos finais de semana por não ter outra coisa a se fazer. É impressionante o consumo de álcool por aqui. Sucesso nos bares, lucro nos famosos “disk cerveja”. E não é preconceito nem hipocrisia, eu até gosto de cerveja, e muito, o problema é que só tem isso aqui em Frutal.

O maior ignorante talvez seja aquele que não se interessa, que não discute, que não avança, não tem opinião, não lê, não debate, não questiona. Essa alienação é alcançada por essas pessoas burras, vazias de qualquer conteúdo político e moral, que se acomodam diante daquele que se intitula mais poderoso, por trás de uma máscara de simpatia e cestas básicas. Como se isso não lhes interessasse diretamente, um assunto complicado e sem importância. Preferem manter-se calados, baixando a cabeça em aceitação a tudo, como se as consequências ruins por tais atos não atingissem a elas mesmas. Diretamente. Por aqui a maioria se contenta com muito pouco, não tem tempo para conversar sobre esses assuntos “chatos”, não têm sequer “opinião” sobre o que está acontecendo.

A maioria das pessoas aqui são pobres de espírito. O raciocínio e a filosofia não são estimulados, não há interesse em que sejam aflorados nas mentes daqui. Mais fácil governar ignorantes do que pessoas que questionam, que exigem, que lutam e mostram a cara de indignação diante de toda essa palhaçada que vem ocorrendo na política local. As pessoas são ignorantes ao ponto de aceitarem as falcatruas, ao ponto de se calarem diante do que é notório, diante das malandragens do governo, que deita e rola sobre essas pobres mentes vazias e estúpidas. Enquanto há suspeitas de um desvio de milhões de reais da verba pública, que já virou notícia nacional, há pessoas que insistem em negar o inegável, que insistem em fechar os olhos ao óbvio, à mais suja corrupção que vem se perpetuando por aqui. E quando não há argumentos, essas mesmas pessoas, irremediavelmente idiotas, imbecis governados, burros de carga que não enxergam ao redor, buscam atingir outras pessoas, ofendem os que ainda possuem alguma capacidade de pensar, como se o errado fosse quem pensa. Aqui é proibido pensar, é proibido cobrar, questionar. Quem faz isso por aqui é mal visto pelos demais, é encarado como baderneiro, invejoso, desocupado, vagabundo. Há uma inversão de valores e ninguém se dá conta disso.

Quem pensa aqui em Frutal é mal visto pelos outros, cheira a ameaça, golpe, vandalismo. Pensar aqui é quase que imoral, a não ser que esteja preparado a enfrentar represálias e intimidações de todos os tipos imagináveis, mesquinhos e podres.  Em momentos assim eu sinto vergonha alheia, vergonha por ainda existirem pessoas, embora com uma certa formação acadêmica, em grande parte adquirida fora daqui, que preferem se manter longe do racional, comportando-se feito retardados mentais, que ainda acreditam que para ser alguém nessa cidade basta uma caminhonete com o sertanejo torando no som, uma roupa de grife e uma garrafa de whisky falsificado misturado com energético no camarote da balada.

terça-feira, 6 de março de 2012

Cara


Eu poderia dizer que a culpa talvez seja dos olhos cristalinos em contraste com sua pele branca, unindo-se ao verde das camisetas sedutoras. Eu também poderia dizer que a culpada talvez seja a loucura que nos fez girar na sala sozinhos, nos escondendo entre cabelos lisos, no vestido fazendo piscar a luz de roda em roda. Pode ser que a culpa seja do cheiro bom que você tem ou do seu jeito doce em explicar as coisas.
E eu também poderia falar por horas sobre as inúmeras vontades desastrosas, das imensas cenas de desconcerto entre tímidos sorrisos e mãos dadas a desvendar incertezas difíceis de explicar. Poderia discorrer sobre a beleza e ainda sobre a leveza de tantas conversas divertidas e insanas. Pode ser ainda que a culpa de tudo seja das viagens, da fotografia no lago, dos meteoritos, do brigadeiro ao som de Johnny Cash, do Tommy, do Creedence, da Barra, do churrasco com chuva, das mitocôndrias, da cachoeira, dos cogumelos, dos Mutantes.
Eu poderia falar que a culpa toda foi da lua cheia e da água da chuva escorrendo em nossas pernas, no telhado, ou da claridade da rua evidenciando cada pingo d’água. Poderia falar que a culpa é da sua escrita em caixa alta e de todas as letras duplicadas no seu nome, do South Park, do Esgoto e da Charlote.
Poderia dizer que a culpa mesmo foi do pôr do sol ao som de Megadeth. Talvez também a culpa seja do cheiro bom do seu cabelo no meu travesseiro ou da aflição do equilíbrio do copo americano sobre a garrafa de cerveja. A culpa de tudo pode ser ainda da consultoria de ondas, do mapa desenhado no papel do telefone com a mão esquerda e do seu sorriso a iluminar meu dia inteiro.
Eu poderia também falar sobre os perigos dessas aproximações momentâneas, de todo o tempo que você ocupa a minha mente e de todo o meu vão esforço em impedir que tudo isso aconteça. Poderia dizer que a culpa é da afinidade, mas a afinidade talvez também seja consequência da loucura e a inteligência só um conceito passageiro de desespero e simpatia.
Eu poderia falar que a culpa maior é a atração que sinto pela beleza que existe dentro desse coração receoso, cheio de dúvida. Porque por mais que eu tente, não consigo aceitar que a culpa seja minha, simplesmente por ter me apaixonado. Por falar o que já estava claro, por querer o que eu já sabia que não poderia ter, mas não fazia ideia da dimensão que tudo isso poderia alcançar.