Bom mesmo é poder agora rever conceitos há tempos ultrapassados, promover o desapego e aceitar que cada coisa tem seu próprio tempo de vida, seu ponto final. Melhor ainda é entender o momento de aceitação, de dizer adeus para o que não tem mais razão de ser, já que tudo seria bem diferente nas circunstâncias atuais.
Essa descrença virou mania de resposta pronta, tanta vida se transforma a todo instante, virar o disco, viver o novo: a simples forma de pensar mais fácil, sem complicar considerações vulneráveis e traiçoeiras. Estive contando seus passos, seguindo seus rastros, mas do mesmo jeito que aquelas pessoas no tumulto de ontem na rodoviária, as mãos dadas evitando afastarem-se seus corpos na multidão simbolizaram também a nossa despedida. Pelo menos esse foi o meu tempo de entender tudo isso.
E foi mesmo melhor desviar os olhares, ainda que quase passássemos um sobre o outro, seria difícil explicar a ela, e tinha tanta gente por todos os lados, que qualquer cumprimento poderia soar um tanto quanto superficial e desdenhoso, o que me renderia uma chateação desnecessária. Desses conceitos, passei a noite entre questionamentos e detalhes há muito esquecidos, sem razão, como quando você briga com alguém e depois de um tempo você já nem se lembra mais o motivo.
Eu já não me lembro mais de tanta coisa, o tempo foi desbotando essas lembranças, desgastando arrepios e desviando a saudade. Tanta coisa aconteceu nesse entretempo, sem participação, sem presença. Seu caminho ficou na minha contramão, então não há mais grande valia em querer estar junto sem estar.
Eu ainda olhei para trás buscando uma resposta, uma última visão do que agora eu aceito que tenha mesmo ficado para trás. Procurei sem ser vista, mas havia tantas pessoas, final de feriado, gente indo e vindo, despedida e chegada, que eu tive a leve sensação de que o meu trem também partira, agora livre e sossegado, sem destino, na paz que agora eu carrego comigo.