A impressão que eu tenho é a de que a maioria das pessoas de Frutal
simplesmente não pensam. E isso muito se deve à falta de subsídios pensantes,
já que não há na cidade qualquer espécie de contribuição cultural. Sim, isso
mesmo. Não há cultura por aqui. Houve um tempo em que existia um cinema, mas
atualmente não há mais nada. Isso sem falar da educação pública, fraca e
desestimulante, diante da desmotivação dos professores provocada por seus
salários ridículos, mesmo após incessantes lutas de classe. Não há incentivo à
arte, literatura, dança, música.
Cultura por aqui tem o nome de carnaval – caro, violento e sem graça –,
e um “Agosto dos Grandes Espetáculos” com artistas regionais, mas em sua
maioria não locais, onde não há nenhum benefício relevante e direto para a
população, mas tão somente gastos desnecessários. Não há preferência por
músicos e artistas frutalenses. A cultura é escassa e a valorização dos
artistas locais é praticamente nula, apesar de contarmos com excelentes músicos
e bandas locais. Não há cinema nem teatro. Por aqui as pessoas são alheias a
toda forma pensante e não se importam em manterem-se desta forma.
A diversão por aqui é a “balada sertaneja”. Todos os finais de semana é
o que se encontra por aqui, em festas regadas a álcool e drogas, onde as
pessoas, terrivelmente fantasiadas ao estilo country do interior, frequentam
festas onde as mulheres, de salto alto e minissaia, contam inclusive com
descontos nos ingressos, ou até entrada gratuita, só para alegrar e satisfazer
os “machos” com suas calças apertadas. Em todo e qualquer canto da cidade o que predomina é o sertanejo. O famoso sertanejo universitário, variação bizarra do que um
dia foi moda de viola, com suas letras vazias e praticamente iguais – o que
muda é a dupla de cantores que, em grande parte das vezes, são cópias fajutas
de duplas populares, com péssima produção musical. O lazer preferido por aqui é
o sertanejo e a cerveja. Todos os bares de Frutal sobrevivem basicamente da
venda de bebidas alcoólicas, que é o divertimento da maioria, que enche a cara
aos finais de semana por não ter outra coisa a se fazer. É impressionante o
consumo de álcool por aqui. Sucesso nos bares, lucro nos famosos “disk cerveja”. E não é preconceito nem hipocrisia, eu até gosto de cerveja, e muito, o problema é que só tem isso aqui em Frutal.
O maior ignorante talvez seja aquele que não se interessa, que não
discute, que não avança, não tem opinião, não lê, não debate, não questiona.
Essa alienação é alcançada por essas pessoas burras, vazias de qualquer
conteúdo político e moral, que se acomodam diante daquele que se intitula mais
poderoso, por trás de uma máscara de simpatia e cestas básicas. Como se isso
não lhes interessasse diretamente, um assunto complicado e sem importância.
Preferem manter-se calados, baixando a cabeça em aceitação a tudo, como se as
consequências ruins por tais atos não atingissem a elas mesmas. Diretamente.
Por aqui a maioria se contenta com muito pouco, não tem tempo para conversar sobre
esses assuntos “chatos”, não têm sequer “opinião” sobre o que está acontecendo.
A maioria das pessoas aqui são pobres de espírito. O raciocínio e a
filosofia não são estimulados, não há interesse em que sejam aflorados nas
mentes daqui. Mais fácil governar ignorantes do que pessoas que questionam, que
exigem, que lutam e mostram a cara de indignação diante de toda essa palhaçada
que vem ocorrendo na política local. As pessoas são ignorantes ao ponto de
aceitarem as falcatruas, ao ponto de se calarem diante do que é notório, diante
das malandragens do governo, que deita e rola sobre essas pobres mentes vazias
e estúpidas. Enquanto há suspeitas de um desvio de milhões de reais da verba
pública, que já virou notícia nacional, há pessoas que insistem em negar o
inegável, que insistem em fechar os olhos ao óbvio, à mais suja corrupção que
vem se perpetuando por aqui. E quando não há argumentos, essas mesmas pessoas,
irremediavelmente idiotas, imbecis governados, burros de carga que não enxergam
ao redor, buscam atingir outras pessoas, ofendem os que ainda possuem alguma
capacidade de pensar, como se o errado fosse quem pensa. Aqui é proibido
pensar, é proibido cobrar, questionar. Quem faz isso por aqui é mal visto pelos
demais, é encarado como baderneiro, invejoso, desocupado, vagabundo. Há uma
inversão de valores e ninguém se dá conta disso.
Quem pensa aqui em Frutal é mal visto pelos outros, cheira a ameaça,
golpe, vandalismo. Pensar aqui é quase que imoral, a não ser que esteja
preparado a enfrentar represálias e intimidações de todos os tipos imagináveis,
mesquinhos e podres. Em momentos assim
eu sinto vergonha alheia, vergonha por ainda existirem pessoas, embora com uma
certa formação acadêmica, em grande parte adquirida fora daqui, que preferem se
manter longe do racional, comportando-se feito retardados mentais, que ainda
acreditam que para ser alguém nessa cidade basta uma caminhonete com o
sertanejo torando no som, uma roupa de grife e uma garrafa de whisky
falsificado misturado com energético no camarote da balada.