Eu poderia dizer que a culpa talvez seja dos olhos cristalinos em contraste com sua pele branca, unindo-se ao verde das camisetas sedutoras. Eu também poderia dizer que a culpada talvez seja a loucura que nos fez girar na sala sozinhos, nos escondendo entre cabelos lisos, no vestido fazendo piscar a luz de roda em roda. Pode ser que a culpa seja do cheiro bom que você tem ou do seu jeito doce em explicar as coisas.
E eu também poderia falar por horas sobre as inúmeras vontades desastrosas, das imensas cenas de desconcerto entre tímidos sorrisos e mãos dadas a desvendar incertezas difíceis de explicar. Poderia discorrer sobre a beleza e ainda sobre a leveza de tantas conversas divertidas e insanas. Pode ser ainda que a culpa de tudo seja das viagens, da fotografia no lago, dos meteoritos, do brigadeiro ao som de Johnny Cash, do Tommy, do Creedence, da Barra, do churrasco com chuva, das mitocôndrias, da cachoeira, dos cogumelos, dos Mutantes.
Eu poderia falar que a culpa toda foi da lua cheia e da água da chuva escorrendo em nossas pernas, no telhado, ou da claridade da rua evidenciando cada pingo d’água. Poderia falar que a culpa é da sua escrita em caixa alta e de todas as letras duplicadas no seu nome, do South Park, do Esgoto e da Charlote.
Poderia dizer que a culpa mesmo foi do pôr do sol ao som de Megadeth. Talvez também a culpa seja do cheiro bom do seu cabelo no meu travesseiro ou da aflição do equilíbrio do copo americano sobre a garrafa de cerveja. A culpa de tudo pode ser ainda da consultoria de ondas, do mapa desenhado no papel do telefone com a mão esquerda e do seu sorriso a iluminar meu dia inteiro.
Eu poderia também falar sobre os perigos dessas aproximações momentâneas, de todo o tempo que você ocupa a minha mente e de todo o meu vão esforço em impedir que tudo isso aconteça. Poderia dizer que a culpa é da afinidade, mas a afinidade talvez também seja consequência da loucura e a inteligência só um conceito passageiro de desespero e simpatia.
Eu poderia falar que a culpa maior é a atração que sinto pela beleza que existe dentro desse coração receoso, cheio de dúvida. Porque por mais que eu tente, não consigo aceitar que a culpa seja minha, simplesmente por ter me apaixonado. Por falar o que já estava claro, por querer o que eu já sabia que não poderia ter, mas não fazia ideia da dimensão que tudo isso poderia alcançar.