Tocava uma música tão ao fundo, distante, que conforme o vento mudava a direção, não se ouvia quase nada. Ora o som entrava tão dentro dos ouvidos que parecia estar vindo aqui de muito perto, ora o vento girava e nada se escutava além dos barulhos da noite, por mais que se fizesse muita força para tentar decifrar a letra daquela canção tão distante daqui. Lembrei-me, enquanto tomava banho, que você adora música e da sua rapidez em decifrá-las tão logo você as ouve, ainda que o som esteja baixo.
Diga-me que não temos segredos, que talvez eu ouça, pois costumo ouvir e prestar atenção em quase tudo que você diz, talvez mais do que consegui ouvir da janela do meu quarto a música ecoada ao som da vitrola, a duas ou doze quadras dali. Era uma voz feminina, mas como disse, não era possível precisar a distância da minha cama até a vitrola, dava para sentir o vento levando e trazendo bagunça por todos os lados.
Lembrei-me das nossas risadas, dos seus olhos, do seu cheiro. A canção continuou naquele vai e vem, oscilação noturna mais gostosa de sentir. Fechando os olhos dá a impressão de que a audição fica mais aguçada, os ouvidos ficam mais atentos... e as lembranças ficam mais calmas.
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