terça-feira, 28 de junho de 2011

Vão



Ela tinha um jeito tolo de lidar com essa vida mansa, sem nada em exagero. E tinha o cabelo queimado do sol, as mãos pequenas e finas, onde a linha da vida quase que não se via. Tinha as ideias confusas, esquecia-se de tanta coisa e com tamanha facilidade que as pessoas acreditavam que ela fazia de propósito, só para chamar a atenção. De sorriso largo, mas cada dia de um jeito, ainda querendo crer que dias bons é opção ao despertar do sono pela manhã.


A janela entreaberta deixava passar os raios de sol daquele fim de tarde de domingo. E o que se via eram as luzes se dissipando, quando ela passava de lá pra cá dentro do quarto, arrumando as malas pra partir. E saía e voltava e girava e corria e fazia dos raios de sol pisca-piscas dentro do quarto o tempo todo.


Não vá dizer que foi tudo em vão. A janela fechada mente a cor dessa manhã gelada, que não te deixa levantar da cama. Não me avise das tempestades, suas previsões do tempo são falhas, aludem a descontroles remotos, ultrapassados.


Teríamos com fé proferido aquelas mesmas palavras se não fossem essas reviravoltas que a vida dá, transmudando as paisagens, esquecendo dos detalhes. É que a fé também ficou esquecida nos ruídos noturnos, nas novidades pelo caminho, nas divindades questionadas, na fé empoeirada, certidões rasgadas.


Há que se saber que a vida é pisar em falso em enfileiradas caixinhas de surpresa, e que as maiores surpresas da vida podem ser encontradas no vão entre as caixinhas. Em constante teste de paciência, até que se atinja o ponto de equilíbrio. Nem raro nem demasiado, nem extenso nem curto demais.


Na calmaria do pôr do sol no quintal da sua casa, da esperança de dias melhores pelo caminho, nas travessias milimetricamente arquitetadas. Então nossa exatidão a gente deixa de escanteio, reviravoltas em nossos pretextos. Fervoroso dilema da estação.

8 comentários:

  1. Apesar da abstração, muito bem escrito e que me deixou refletindo bastante. Gostei do lance das caixinhas. Parabéns seu blog tá lindo!

    Cammila Paiva

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  2. Bom texto, faz a gente refletir com a personagem. A vida é mesmo uma caixinha de surpresas.

    parabéns pelo blog.

    abraço,
    www.todososouvidos.blogspot.com

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  3. Nada é em vão. Só pode ter sido a hora errada de acontecer... :)

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  4. Tudo o que acontece nessa vida tem um próposito. Nada, portanto, é por acaso. As vezes, nem sempre estamos preparados o suficiente para lidar com as surpresas que encontramos em cada caixinha e, em outras, não temos o que é preciso para saber enxergar as oportunidades que nos aparecem. Queremos que tudo seja óbvio e fácil, para não ter que procurar no vão. Mas, assim como muitas na vida, nada é exatamente como parece ser.

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  5. Muito bem escrito e nos leva a uma reflexão.

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  6. Essa coisa de mentir para nós mesmos. Pensar que se eu acordar mais cedo no outro dia, ele será bom é tão eu. As pessoas geralmente não acreditam em meus sentimentos.

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  7. Realmente a vida cheia de surpresinhas surpreendentes.
    Ameo seu blog linda....beijinhos!
    Juh.

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  8. a vida é uma eterna caixinha de supresa.
    tem toda razão nesse seu belo texto.parabéns

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