E os nossos laços foram se desfazendo sem que a gente percebesse. Eu não sei mais que horas você acorda nem o que come no almoço. Se ainda dorme com aquele pijama velho, se ainda toma cerveja em caneca de alumínio ou se ainda briga por causa do sofá de frente a TV.
A gente não se reúne mais pra comer brigadeiro, nem para ir ao cinema na quarta-feira à noite, pagando meia com a carteirinha da biblioteca. A gente já não dorme junto no final de semana, só pelo tempo e pela companhia. Não brinca mais de gato-mia, não vira a noite jogando tranca e tomando vinho ou "eu nunca" bebendo "caipiceva" no copo do liquidificador.
Então parece que essas pequenas coisas foram ficando cada vez mais distantes de nós, as serpentinas foram desfeitas. A gente já não se fala todo dia, quando muito nas conversas de MSN. E não estamos mais reunidos nas mesmas fotos, fazendo graça, olhando para o lado, procurando a pose mais engraçada, forçando um "sem amigos".
Também não frequentamos mais os mesmos lugares, não nos entusiasmamos pelas mesmas coisas, não brincamos de "cachoeirinha" naquelas tardes de calor insuportável e várias antárcticas geladas espremidas no congelador, contando com as desculpas mais esfarrapadas para não ir ao estágio.
Da banheira do Gugu, do medo de alguns sobre parque de diversão, da raridade dos banhos de outros e da animação de todos nas noites de quinta-feira, nos esquentas com vodka barata. Das discussões, abraços, perdões. O engraçado nisso tudo é que sabíamos desde o início que esse dia chegaria, dia de despedida, dia de ir embora. Mas só que não contávamos com a intensidade de nossas aproximações, com tamanho envolvimento e afeto, carinho e emoção.
O mais incrível nisso tudo é que cada reencontro é e sempre será uma continuação de nossas histórias juntos, como se o tempo tivesse ficado em suspenso. E apesar de toda a distância e de todos os fatos novos que, de certa forma, nós ainda compartilhamos, cada vez será ainda melhor em momentos cheios de nostalgia e fraternidade. Momentos definitivamente simples e raros.
"E nossa estória
Não estará pelo avesso assim
Sem final feliz
Teremos coisas bonitas pra contar
E até lá, vamos viver
E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos
O mundo começa agora
Apenas começamos".
- Renato Russo -